“Cada um faz o que pode: com seu trabalho, com
seus filhos, com suas frustrações, com seus sentimentos. Preferir a sombra ou a
luz não parece ser uma escolha qualquer. Estar em contato com a luz direta pode
ser enlouquecedor, cegar a razão - essa que protege do que é puro. E o que é
puro é demais para a consciência, não lhe faz sentido. Estar na sombra é um
estilo mais protegido, mas a sombra demais vira escuridão e a escuridão total
tem cheiro de mofo, tem ares de morte. Luz e sombra, cegueira e visão: vida e
morte. A tênue linha que dá base ao viver, dialética que nos constitui. Ver o
mundo, mesmo por meio dos próprios olhos, sempre
conta com algum engano. Quem anda pela sombra prefere se enganar mais. Quem
anda pela luz, acha que pode estar mais de encontro com a verdade. Mas, no
frigir dos ovos, todo mundo se encontra e se perde. Cada um faz o que pode.
Vive seus momentos de luz e sombra na medida do que lhe é possível, com aquilo
que suporta de realidade e com o que é suportado pela fantasia. A vida é um
jogo que temos e não temos nas mãos. Às vezes somos jogados, às vezes achamos
que estamos jogando. Por fim são momentos, movimentos que nos lançam e ataques
que paralisam. Jogo de luz e sombra, aparecimento e sumiço. Cada um faz o que
pode. Neste jogo tem jogar, julgar,
iluminar e esquecer; luz de fogo, meia-luz; lembrar, reencontrar, demarcar
novos territórios, deixar-se vencer. Viver é um jogo de luz e sombras e nele
cada um faz o que pode.”
Por
Andressa G. Hoewell, psicóloga e psicanalista